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Linguagem
Julho 2024

Você fala a língua do digital?

Quando Tom Zé afirmou "Eu tô te explicando pra te confundir, Eu tô te confundindo pra te esclarecer," ele, talvez sem perceber, antecipou o desafio contemporâneo de entender e ser entendido em um mundo cada vez mais digital. A proliferação de novas expressões e gírias nas redes sociais pode nos fazer sentir confusos e desconectados, mas também revela um panorama mais amplo sobre como a tecnologia, especialmente a inteligência artificial, está transformando nossa comunicação.

Exemplos de vídeos POV com gatos, que viralizam com frequência no TikTok — Foto: Reprodução/TikTik/@povdosgatinhos


Por que isso nos chamou atenção?

"Agora todos falamos a língua do smartphone".


O jornalista Dan Brooks fez esta afirmação em sua análise sobre como as redes sociais, especialmente plataformas como TikTok e Instagram, têm acelerado a disseminação de gírias a ponto de elas perderem suas conotações subculturais e se tornarem padronizadas. Antigamente, ouvir uma determinada expressão nos permitia identificar um contexto específico ou imergir em determinada cultura ou geração, hoje, temos uma proliferação de gírias vazias.

"A crise na gíria é que entendemos tão bem o que todos estão dizendo que achamos que nos conhecemos, quando na verdade entendemos cada vez menos".

Dan Brooks

Lembra da nossa Bite de Tendência? Onde falamos sobre a efemeridade de tudo que é chamado de tendência hoje. Isso também se aplica à forma como nos comunicamos. Neste artigo da Vox, eles discutem a batalha dos criadores de conteúdo para inventar termos na expectativa de que se tornem virais. "Em cada rolagem, novos termos disputam espaço na consciência coletiva, muitas vezes sem relevância real." Isso resulta em um excesso de gírias descartáveis, contribuindo para um cemitério de microtendências que são adotadas brevemente apenas para gerar atenção antes de serem abandonadas.


A inteligência artificial tem um papel significativo nessa "(r)evolução". Modelos de linguagem de grande escala, como o ChatGPT, estão mudando a maneira como interagimos com a tecnologia e, por extensão, entre nós mesmos. Já é consenso entre os especialistas que a evolução tecnológica tem uma influência profunda na linguagem humana. Segundo Dora Kaufman, a "comunicação e a sociabilidade do brasileiro está mediada pelos algoritmos de inteligência artificial". No entanto, algoritmos não apenas facilitam a comunicação, mas também influenciam nossa linguagem, introduzindo novos termos e formas de expressão que rapidamente se tornam parte do nosso vocabulário diário.


O projeto BabyView exemplifica a interseção entre tecnologia e aprendizagem linguística. Observando que sua filha Luna aprendia rapidamente com tão poucos exemplos, um cientista cognitivo de Stanford decidiu colocar um capacete com câmera nela para registrar tudo o que ela via e ouvia durante os primeiros anos de vida. Os dados coletados são utilizados para treinar modelos de inteligência artificial de forma mais eficiente, imitando o processo de aquisição de linguagem humana.

Além de Luna, o projeto inclui cerca de 25 outros bebês participando do estudo.

E o design nisso tudo?

O design tem tantos formatos que pode-se dizer que é uma linguagem por si só. Para responder às necessidades das pessoas, ele precisa saber se comunicar com elas. Por isso, falamos tanto em manter o dedo no pulso dos usuários. Entender como se conectam, quais expressões usam e como interagem com a tecnologia é crucial para criar experiências que realmente ressoem com eles. Ao abraçar essas mudanças, podemos criar futuros mais inclusivos e intuitivos.


O designer Leonardo Garcia fez uma relação interessante entre a importância da linguagem para a funcionalidade de um sistema de design dentro de uma organização. Se a linguagem transmite os valores e práticas de uma cultura, um design system comunica os valores e normas visuais de uma organização. Ele faz uma analogia entre o povo indígena Pirahã e o design system para ilustrar a importância de vivenciar e internalizar uma cultura para realmente compreendê-la e aplicá-la de forma eficaz. Conta a história do linguista Daniel Everett, que ao tentar aprender a língua dos Pirahã, descobriu que era impossível sem imergir completamente na cultura do povoado.


Essa perspectiva cultural, em vez de tratar o design apenas como um produto, pode trazer maior consistência e eficiência, transformando necessidades em soluções que impactam positivamente as pessoas e a experiência do usuário.

Até a próxima! 🤫

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