Existem diversas interpretações filosóficas e psicológicas sobre o conceito de realidade. "Como eu sei que o mundo existe? Qual é o critério que eu tenho para saber? Será que o mundo não é apenas a minha imaginação?". Esses são exemplos de indagações que filósofos como Daniel Omar Perez exploram em relação à natureza da realidade.
Por que isso nos chamou atenção?
Novas tecnologias sempre colaboram direta ou indiretamente na sensação de distância psicológica entre as realidades física e virtual. Cada tecnologia tem a sua forma de impactar nosso jeito de perceber o mundo, mas percebemos que reacostumar-se com o "novo real" tornou-se uma tarefa cotidiana.
"É por isso que falamos o tempo todo “Isso é muito ‘Black Mirror’” (...) Desde os anos 1970, teóricos apontam que as mudanças estavam acontecendo muito rapidamente e que a humanidade um dia perderia a capacidade de se adaptar. Hoje não é só o futuro que choca. É o presente."
Os comentários em torno do cachorro robô de Alok é um exemplo desta semana que ilustra parte desse fenômeno.
Com o boom de inteligência artificial, nossa companheira de todas as newsletters, é cada vez maior o questionamento sobre a veracidade do que é consumido como informação e se seremos capazes de desenvolver formas de avaliar e proteger a sociedade de informações falsas que coloquem a vida das pessoas em perigo e/ou acirrem conflitos.
As eleições americanas e brasileiras já começam a revelar esse desafio. Recentemente, a OpenAI anunciou que limitará o uso de suas ferramentas durante o processo eleitoral nos EUA para tentar conter a disseminação de informações erradas. No Brasil, o TSE divulgou essa semana as normas para que candidatos precisem informar o uso de IA nas veiculações de campanha. (o #postpago agora é #postgeradoporIA).
No entanto, será inevitável vermos uma enxurrada de conteúdos com deepfakes, desde os mais humorados, até os mais criminosos. Até por que sabemos que os responsáveis pelo desenvolvimento de notícias falsas são, na maioria das vezes, pessoas físicas envolvidas com a campanha de um candidato.
Vamos precisar discernir rapidamente entre o real e o fictício. O jornalista Casey Newton escreveu sobre um conceito acadêmico conhecido em inglês como "the liar’s dividend" ou o "dividendo do mentiroso" em uma tradução livre. Basicamente, isso significa que há tanta falsidade sendo produzida no mundo que a desculpa de "é apenas mais um deepfake" pode se tornar uma justificativa conveniente para que políticos e outros personagens mal-intencionados relativizarem a verdade.
"Quando qualquer coisa pode ser falsificada, tudo pode ser falso".
— Jeffrey McGregor, CEO da Truepic,
empresa especializada em autenticidade de imagens.
Além dos exemplos políticos, ainda temos o boom de OOH - mídia out of home - passando diariamente pelo nosso feed. Anúncios interativos que fazem surgir no meio das cidades, bolsas, roupas e inúmeros itens gigantes, nos fazendo por alguns segundos questionar a sua veracidade. Recentemente, até Gisele apareceu em um holograma enorme para divulgar a campanha de verão de Boss. Além disso, modelos criadas por uma inteligência artificial, tem chacoalhado o mercado de influencers, e roubado verbas de comunicadores físicos. E mesmo não existindo no mundo real, as modelos virtuais "recebem em média, 20 pedidos de casamento mensalmente", diz a reportagem.
E o design nisso tudo?
Alguns especialistas afirmam que ao mesmo tempo que a disseminação e produção deste tipo de conteúdo aumenta, também ficaremos mais atentos e preparados para identificar possíveis inverdades. E isto é um comportamento importante para o design e para quem o desenvolve.
"Estamos distraídos. Sentimos instintivamente que algumas coisas são boas demais para serem verificadas. E assim aceitaremos mentiras que realmente deveriam nos fazer pensar".
O debate real não é sobre a tecnologia em si. O que seria do universo Marvel sem CGI?Desde tempos imemoriais, somos contadores de histórias, independentemente de sua veracidade. Nas palavras de Lacan, "a verdade tem a estrutura de ficção", destacando a perspectiva da psicanálise de que não existem verdades universalmente válidas. A habilidade inata da humanidade em criar e compartilhar narrativas fantásticas para enfrentar diversas questões é autêntica, mas precisamos estar atentos ao limites e continuar lutando para não homogenizarmos a diferença entre o que é fato e o que é representação nas decisões da vida cotidiana.
Se um dos movimentos do design é, cada vez mais, trazer os usuários para a mesa de criação, e não tê-los somente como espectadores do próprio processo, temos em mãos uma ferramenta potencial para conseguirmos abranger as diferentes perspectivas do real, inclusive respeitando a singularidade de cada desafio de negócio.
Além disso, precisaremos usar métodos generativos com objetivos claros: Essa ficção criada nos ajuda a exemplificar o quê? Para quem? Por quê?
E aí? Qual será a realidade que os seus usuários estão enxergando? E qual você deseja que eles enxerguem sobre você mesmo?
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