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ANSIEDADE ALGORÍTMICA
Abril 2023

Você quer que eu queira o que você acha que eu quero?

Na música ¡Oh, algoritmo! o cantor uruguaio Jorge Drexler pergunta a um algoritmo o que ele deve cantar, uma vez que o mesmo deve saber mais do ele próprio. Logo depois, ele questiona quem afinal fez a aquela canção: foi o algoritmo que escolheu a música ou será que foi a música que o escolheu?

A ansiedade algorítmica é essa preocupação de que a tecnologia está cada vez mais no controle das nossas escolhas. O The New Yorker foi além e descreveu como "o sentimento moderno do usuário da internet de lutar constantemente com sugestões automáticas de seus possíveis desejos."

The New Yorker

Por que isso nos chamou atenção?

No último SXSW, a IA acabou dominando as palestras nos 45 minutos do segundo tempo e deixou os participantes assustados com o que pode estar vindo por aí. A verdade é que cada vez vai ficar mais difícil de rastrearmos como as informações chegam até nós e o quão genuínas elas são.

Uma das palestrantes de maior destaque do evento, Amy Webb, trouxe uma perspectiva considerada catastrófica para alguns, mas a preocupação dela é a de que com IA se instaura um novo modelo de linguagem que pode, e provavelmente vai, gerar coisas do zero. Além disso, essa tecnologia vai captar tantos dados de diferentes fontes que ao invés de nós procurarmos as coisas na internet, os algoritmos passaram a nos procurar.

“Esse é o fim da internet como conhecemos. E a implicação disso é que, indo para frente, tudo é informação. Os sistemas estarão nos pesquisando”.

Amy Webb

Por outro lado, a boa notícia é que já surgem novos modelos de negócios preocupados em combater fake news e a intoxicação de conteúdos. É o que se propõe o Artifactnovo aplicativo dos cofundadores do Instagram, que quer entregar o melhor feed de notícias que você pode ter, usando IA para beneficiar os usuários. O foco do app é oferecer conteúdos de nicho, fugindo das principais manchetes e veículos, e dando voz e visibilidade para quem escreve com qualidade e cuidado.

Artifact

E o design nisso tudo?

Se temos o design como uma ferramenta para propor novos cenários, existe um potencial enorme para tentar combater ou diminuir a intensidade deste sentimento. Essa catastrofização da tecnologia não é nova, ela aconteceu com a imprensa, o carro, a televisão. Itens que de fato alteraram nosso modo de existir, mas continuamos, apesar delas, centrados no que nos faz humano. Para o The Atlantic nossas preocupações com as descobertas tecnológicas refletem o que realmente valorizamos na humanidade: as ferramentas, querendo ou não, são construídas por nós.

Claro que quando falamos sobre ansiedade algorítmica e recomendações, existem várias perspectivas para abordarmos. Se por um lado, temos pouca paciência para aquele anúncio que nos persegue, de outro, achamos muito bom quando recebemos aquela comunicação precisa. E isso não fala sobre sobre recomendações, mas sobre como toda uma indústria de mídia está construída hoje.

“Assim como o medo de altura não tem a ver com altura, a ansiedade algorítmica não tem a ver apenas com algoritmos. (...) eles não teriam o poder que têm sem as enxurradas de dados que produzimos voluntariamente em sites que exploram nossas identidades e preferências para fins lucrativos".
Patricia de Vries

Podemos nos colocar de forma diferente frente a esses sentimentos, talvez com menos medo e com mais confiança, abertos para explorar e utilizá-los ao nosso favor. A Fast Company nos provoca a aprender a surfar a onda tecnológica e até propõe etapas práticas que podemos transformar esse vazio do que vai acontecer em animação pelo que está por vir. Mas, para isso, tanto como designers quanto como pessoas vamos precisar nos colocar como participantes ativos no contexto. Aprender como o mercado usa de fato os dados e decidir com propriedade com quem dividi-los e o que tiramos dessa relação onde a moeda são as informações.

Olhando de volta para o design, o importante é manter a transparência e tentar ao máximo ajudar os usuários a entender qual foi o caminho percorrido, dando alternativas para que possam decidir se querem ou não seguir com aquilo. A tomada de decisão deve ser sempre humana!

😉

Fontes dessa edição:

https://zanotti.com.br/blog/consumidor-do-futuro-2025/https://www.b9.com.br/160973/sxsw-2023-nocaute/https://www.estadao.com.br/saude/ansiedade-algoritmica-as-redes-podem-afetar-a-saude-mental-de-usuarios-e-influencers/https://fastcompanybrasil.com/worklife/ansiedade-em-relacao-a-ia-pode-ajudar-a-surfar-a-onda-da-revolucao-tecnologica/

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